à direita da esquerda não fica o centro

Acho uma certa piada a esta conclusão pós-eleitoral de que o povo votou contra o regime; de que o populismo é o resultado do fracasso das democracias europeias; de que o crescimento da extrema-direita se deve ao descontentamento com as sociais-democracias. É admirável a capacidade de nos surpreendermos com o falhanço do centro-político, da realpolitik, dos pactos de regime. Mas a verdade é que o centro-político não falhou, venceu. Ele está é mais à direita, deslocou-se. Uma das missões do centro-político é acabar com a contestação laboral, com os sindicatos e os momentos de exposição dos falhanços do capitalismo moderno. O centro-político está, mais do que nunca, ao serviço do neoliberalismo, enquanto ferramenta para perpetuar o capitalismo como sistema político único e universal. O seu projeto atual é diminuir ou extinguir as esquerdas, nos países onde elas ainda existem. Em Itália, por exemplo, já não havia nada para extinguir. E é isso que é maravilhoso. O neoliberalismo continua a convencer os euroliberais que são de esquerda. E é com eles que o eleitorado se desilude. Eles são o bode expiatório desta narrativa em curso, quando dizem “extrema-esquerda”, “os comunistas” com aquele tom de desprezo cosmopolita que depositam em cada negação da génese esquerdista. Há até quem diga que nunca foi marxista. Portanto, tudo isto tem uma certa piada.

Autor: jijeque

stick to the man

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