Acerca de um não-assunto

Estive a ver parte da discussão acerca da possibilidade dos animais de companhia poderem aceder a restaurantes, acompanhando os donos. Como é normal no Prós e Contras, a uma Fátima Campos Ferreira mal preparada corresponderam convidados e plateia cuja intenção parece ser única, a de “aparecer”. Viu-se de tudo, desde a boçalidade de um jurista enfatuado que se deslumbra com o ridículo das suas próprias palavras, até ao filósofo cujo principal objectivo seria o de tentar ridicularizar os restantes mediante perguntas que ele acha crípticas para a populaça. E todos discutiram tudo, desde o humanismo vs. animalismo, desde o especismo à senciência e à felicidade dos cães num restaurante. Ficou quase sem discussão – na parte que vi – a questão central: devem ou não os animais de companhia poder acompanhar o seu tutor no interior de um restaurante?

Levarei alguma vez os meus cães ou a minha gata ao restaurante? É quase certo que não. Entrarei alguma vez num restaurante cheio de cães e gatos e periquitos e papagaios? É quase certo que não.
Sou a favor da lei? Sou, porque é ao ao dono do restaurante que cabe permiti-lo ou não. A mim caberá a decisão de entrar em tal restaurante ou não.

Não creio que a discussão dos direitos animais, da condição animal, da felicidade animal sejam para aqui chamados. Um cão é um cão, e sente-se bem perto dos seus, estejamos onde estivermos, numa praia, em casa ou num restaurante. Mas isso não é motivo suficiente para o levarmos – a ele e à baba, ao pó, aos peidos, e à possibilidade de acidentes diversos, para o interior de um local onde comemos. É-me fácil dizer isto, já que os meus cães não comem no mesmo local onde eu como, e por saber que existirá sempre a possibilidade de vermos acrescento ao molho de francesinha de cada vez que o meu cão abanar a cabeça. De resto, também não levamos uma criança pequena ao cinema ou ao teatro, espero, mais ou menos pelos mesmos motivos.
Mas o que a lei prevê é nada mais do que a liberdade do dono do negócio decidir essa entrada ou não. E a isso eu não posso dizer que não.